Falar de individuação é falar de seres humanos, pois somente nós humanos somos capazes de individuar. Individuação não é individualismo, que tem um conceito limitado, individuação é segundo Jung, “uma atividade concentrada e dirigida da consciência, que acarretaria deste modo, um risco de um considerável distanciamento do inconsciente”. Individuar é uma ampliação da auto-imagem em direção à maturação e ao desapego das idéias preconcebidas e imputadas por uma sociedade maniqueísta. Individuar é assimilar e integrar os conteúdos psíquicos com as experiências da vida e transformar este conhecimento em beneficio de si mesmo. Para Jung individuar-se “é conhecer, é viver a totalidade é permitir-se. Com esta frase, Jung (1971) demonstra que a individuação é tanto interna como externa e, que nós, como indivíduos, ainda que sociais, temos a obrigação de responder aos questionamentos que a vida nos traz, e, mais, que agindo desta maneira estaremos contribuindo para nossa evolução e a do outro que se beneficia com a nossa mudança (Jung, 1971).
Nem sempre o individuo em tratamento, ou em mudança, está em um processo de individuação. Daí a necessidade de estudo de cada caso separadamente e habilidade do psicólogo para atender cada caso. O processo de transformação interna se relaciona com a consciência plena pelo individuo, de suas habilidades, que na meia idade são agrupadas à suas experiências de vida, resultando em um complemento do individuo. Esta complementação lhe traz a segurança necessária para assumir as mudanças que vão ocorrer. Se, durante este processo, o individuo procura a análise, a mudança se fará com maior tranquilidade e “menos dor” (Jung, 1971).
Jung (1991) fala inicialmente de como a consciência se desenvolve, detalhando depois , algumas das conseqüências de como estamos inicialmente presos ao mundo de nossos pais e depois, gradualmente, nos envolvemos com o mundo à nossa volta. Sharp (1995) diz que “são muitos os caminhos que levam a percepção consciente, mas eles seguem leis definidas”. A opinião de Jung é que fomos feitos para concretizar dentro de nós aquilo que instintivamente buscamos no exterior. E se não o fazermos, se nos satisfazemos com pouco, o inconsciente se rebela e a consciência desmorona. (Sharp, 1995).
As pessoas ficam neuróticas quando se contentam com respostas inadequadas ou erradas às questões da vida. Elas buscam posição, casamento, reputação, sucesso exterior ou dinheiro e permanecem infelizes e neuróticas mesmo quando conseguem o que estavam procurando. Essas pessoas estão geralmente confinadas dentro de um horizonte espiritual excessivamente estreito. Sua vida não possui conteúdo suficiente, significado suficiente. Quando lhes é permitido se desenvolver e adquirir uma personalidade mais ampla, a neurose desaparece (Hollis, 1995).
Os sintomas que caracterizam a transição da meia idade são o tédio, a repetida mudança de emprego ou de parceiro, o uso de drogas, álcool, pensamentos ou atos autodestrutivos, infidelidade, depressão, ansiedade e crescente compulsividade. Esses sintomas anunciam a necessidade de uma mudança substantiva na vida da pessoa. O sofrimento acelera a consciência e, a partir de uma nova consciência, uma vida nova pode surgir. A verdade é simplesmente que aquilo que devemos saber virá de dentro de nós, neste momento é preciso desconsiderar o exterior, ou o que a sociedade espera de nós, é preciso sim nesta hora, ouvir nosso interior, valorizar nossas experiências e procurar viver de acordo com a nossa verdade. Jung comentou que somos forçados a escolher entre ideologias externas ou neuroses particulares. Somente o caminho da individuação poderia servir como alternativa viável. (Hollis, 1995).
Para Brehony (1999), o conceito de individuação é a imposição evolutiva, pela qual todos, indistintamente passaremos, pois é um questionamento interior. Jung acreditava que o objetivo da vida era a manifestação do núcleo único e individual ou “Si mesmo”, que é inerente a cada pessoa. O movimento natural na direção do “Si mesmo”, a individuação, é ao mesmo tempo um princípio e um processo que está subjacente a toda atividade psíquica. Temos dentro de nós quem queremos ser. Mas este caminho da individuação, segundo Jung, não é apenas um processo natural que simplesmente “acontece”. Não é um processo passivo. Pelo contrário, precisa ser experimentado conscientemente, isto é, com conhecimento. De fato, é esta a idéia de que a individuação é um processo consciente que a torna tão importante. A meta não é ser perfeito, e sim, ser inteiro. A inteireza, por definição, inclui um conhecimento de tosos os aspectos da nossa personalidade, inclusive aquelas características que preferíamos não reivindicar para nós (Jung, 1971).