O conceito de sincronicidade.
O critério decisivo para a identificação de um fenômeno de sincronicidade é a aparição simultânea de dois acontecimentos ligados pela significação, mas sem ligação causal.
O conceito geral de sincronicidade é empregado no sentido especial de coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal, mas com o mesmo conteúdo significativo.
O termo sincronismo possui um significado diferente, sinalizando apenas a ocorrência simultânea de dois fenômenos quaisquer (algo que ocorre até com certa freqüência no ambiente e na natureza).
Assim, Jung agrupa três classes possíveis de fenômenos que podem ser designados como pertencentes ao conceito de sincronicidade:
1) Coincidência de um estado psíquico do observador com um acontecimento objetivo externo e simultâneo, que corresponde ao estado ou conteúdo psíquico, onde não há nenhuma evidência de uma conexão causal entre o estado psíquico e o acontecimento externo e onde, considerando-se a relativização psíquica do espaço e do tempo, acima constatada, tal conexão é simplesmente inconcebível;
2) Coincidência de um estado psíquico com um acontecimento exterior correspondente (mais ou menos simultâneo), que tem lugar fora do campo de percepção do observador, ou seja, especialmente distante, e só pode verificar posteriormente (como por exemplo, a visão significativamente atestada, do grande incêndio de Estocolmo, tida por Swedenborg, que foi identificado como um caso parapsicológico de clarividência, para alguns de ordem mediúnica);
3) Coincidência de um estado psíquico com um acontecimento futuro, portanto, distante no tempo e ainda não presente, e que só pode ser verificado também posteriormente.
Partindo da própria experiência com o seu inconsciente a primeira grande descoberta de Jung, é que no indivíduo existe outra coisa além de seus problemas pessoais. Jung percebeu que haviam mensagens que vinham de mais longe, colocando em movimento símbolos que ultrapassavam infinitamente a história do sonhador, os arquétipos.
Concebe a realidade de um inconsciente coletivo ou psique objetiva, psique inata, que possui uma estrutura básica universal. É nela que está a base arquetípica do ego, que ele chamou Self.
Para Jung, esta mente inconsciente, é tão real quanto o universo “real”, exterior, da experiência consciente coletiva. Ela representa o lado simbólico com a vida, é o mundo das imagens por trás das emoções e pode ser observada nos sonhos, na fantasia, nas visões, nos estados de transe e está expressa nos contos, nos mitos, nas religiões, nas artes.
É, um conteúdo inesperado que está ligado direta ou indiretamente a um acontecimento objetivo exterior, concordando com a concepção relativista de Einstein (que postula a existência de um continuum espaço-tempo), Jung declara que o tempo e o espaço “constituem uma só e mesma coisa, e por isso se fala de um ´espaço de tempo`” .
Assim, a psique não é algo que começa e termina somente em seres humanos e em isolamento do cosmo. A tese de Jung é a de que há uma dimensão na qual a psique e o mundo interagem intimamente e se refletem reciprocamente. Segundo suas palavras,
“A sincronicidade postula um significado aprioristicamente relacionado com a consciência humana e que parece existir fora do homem. Semelhante hipótese ocorre sobretudo na filosofia de Platão, a qual admite a existência de imagens ou modelos transcendentais das coisas empíricas, as chamadas formas, de que as coisas são cópias. Esta concepção não somente não apresenta nenhuma dificuldade para os tempos antigos, mas era como que uma evidência em si mesma”.
Segundo suas observações, até o século XVIII, o pensamento filosófico admitia uma correspondência secreta ou uma conexão significativa entre os acontecimentos naturais. Essa hipótese – que irá originar a idéia que Jung denominou como o Unus Mundus.
Unus Mundus, significa mundo unido, mundo unitário conceito da alquimia medieval resgatado pela psicologia analítica de Jung, cuja cosmovisão implica na existência de uma unidade subjacente em toda a natureza material e imaterial. A vivencia do unus mundo possibilita a abertura para o eterno.
O unus mundo é o fundo transcendente que reside em toda a unidade da natureza.
Em certas religiões funerárias como do Egito antigo, é descrito com palavras comoventes como o morto que se faz uno com todos os deuses e todas as matérias do universo para converter-se finalmente em um, o pai primordial, personificação das águas que envolviam o mundo antes da criação e das quais surgiram todas as coisas.
No taoísmo chinês, todo aquele que se unifica com o unus mundus viaja sobre o ar e as nuvens, cavalga sobre o sol e a lua, vagueia para o além do mundo e a vida e a morte não podem modificar o seu si mesmo.
A vantagem de prestarmos atenção ao movimento interior destas imagens (símbolos), reinterpretado por Jung, é que facilita o nosso processo de individuação, que é a passagem do exterior para o interior, da periferia para o centro, colocando em movimento as habilidades inatas da nossa psique para a plena realização da nossa existência.
A descrição de Jung da mente inconsciente foi respaldada pela ciência contemporânea nas pesquisas com o cérebro, sobretudo do misterioso hemisfério direito do cérebro que pensa por imagens, por símbolos e metáforas e desconhece as leis de tempo e espaço. Esta mente é intuitiva, analógica, sintética, holística. A consciência segue as leis do hemisfério esquerdo do cérebro, pensa por palavras, é temporal, racional, lógica, digital, linear. Os pensamentos sobre a mente inconsciente de Jung tiveram ressonância também na física quântica, na biologia, na informática. O avanço da biologia, o estudo do genoma, contribuiu para uma extensão da concepção de arquétipo.
A clonagem, por exemplo, revela o anseio do mito do duplo em ação, onde o personagem pode viver simultaneamente em duas vidas, estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Com a globalização e a Internet, nós entramos num mundo sincrônico, numa rede de informação e comunicação coletiva, full-time. Podemos fazer um paralelo desta comunicação com a mente inconsciente de Jung, a Internet Psíquica, interior.
Expressões de sentido transcendente como, mundo virtual, portal, a linguagem por imagens e ícones, passaram a fazer parte da nossa vida.
O pensamento racionalista ocidental não está acostumado a lidar com este tipo intuitivo de pensamento dialético. Mas a Física Moderna fez, recentemente, os cientistas ocidentais se confrontarem com paradoxos semelhantes em seu próprio campo de pesquisas, tanto que um físico chamado Fritjof Capra realizou todo um estudo das relações entre Física Moderna e Filosofia Oriental (Capra, 1975), chegando a conclusões muito parecidas com as de Jung ao aproximar Psicologia Profunda e o pensamento do Oriente.
Jung, encontrou no livro das Mutações O I CHING a significação filosófica para a sincronicidade. Nesta perspectiva a sincronicidade é a manifestação do TAO, do caminho, da união dos opostos, função transcendente da mente.
Jung também pesquisou a astrologia, como a primeira manifestação de sincronicidade. Uma de suas discípulas, Liz Greene, elevou a astrologia ao nível da ciência acadêmica. A manifestação da sincronicidade é a evidencia de que o espaço e o tempo são psiquicamente relativos.
Assim, a sincronicidade postula o despertar de uma faculdade capaz de experimentar uma inteligência e sabedoria absoluta e a seguir seu misterioso desígnio para nós.
Esta visão nos obriga a uma transformação do nosso olhar, a assumirmos uma posição de observador dos fenômenos internos e externos, para extrair o sentido da sincronicidade para nossa vida. Esta é uma atitude de presença vigilante aos sinais, às manifestações, o que enriquece nosso campo de consciência e nos ajuda a evitar atitudes prematuras ou incorretas na nossa vida.
As sincronicidades são os sinais que nos orientam na nossa jornada de vida.
Viver em sincronicidade é viver em harmonia com as poderosas forças do inconsciente, é percorrer o caminho do meio. O Tao, o Unus Mundo dos alquimistas, é quando o que está dentro forma uma unidade com o que está fora.
Quando a sincronicidade manifesta-se, ela vem nos preparar para alguma coisa. A coincidência significativa pode corrigir nossas posturas apontar para uma experiência do eu futuro. Devemos discerni-las e comemorar, pois elas são muitas vezes pequenos milagres em nossa vida.As manifestações da sincronicidade abarcam inúmeras experiências que figuram como telepatia, précognição, clarividência, conhecidas como PES, percepção extrasensorial