As construções humanas são norteadas pelas percepções inconscientes do mundo, acumuladas ao longo da evolução da espécie, devido às constantes modificações nas capacidades mentais.
As contribuições inconscientes de criação nas elaborações artísticas e científicas estão imbricadas nas novas idéias e sensações que nos são incutidas e acumuladas no inconsciente.
É a partir destas percepções inconscientes que se evidenciam e racionalizam os fenômenos e os processos físicos, perceptíveis pela consciência humana, transformando de forma contínua as leituras, interpretações e traduções do mundo macroscópico, objeto da Física Clássica. Ainda por um fator inconsciente, somos levados a construções de modelos mediadores de comunicação, que são transmitidos por meio de uma determinada linguagem.
De acordo com Lacan, toda investigação humana está vinculada irreversivelmente no interior do espaço criado pela linguagem. Esta certeza converge para o conceito de inconsciente, introduzido na psicanálise por Freud, e reelaborado por Jung posteriormente.
Os diferentes desdobramentos da inventividade humana, embora muito diversificados, têm uma mesma origem, a mente humana e as percepções inconscientes; daí o fato de construções distintas eventualmente conduzirem os pensamentos a uma mesma referência. Há uma sincronicidade nas construções humanas decorrente deste fundo comum a todos os seres humanos.
Pode-se, assim, pensar o inconsciente como um universo virtual de possibilidades, o vazio, onde o contexto é atemporal e a-espacial, o que nos possibilita uma analogia com o vácuo quântico. Os colapsos ocorridos neste universo virtual, construtor das realidades humanas, são provocados pelos acontecimentos e pelas variadas formas de linguagem.
São os acontecimentos que geram as temporalidades e as espacialidades, enquanto esse contexto tempo-espacial, juntamente com as linguagens, constroem o sentido.
Por exemplo, algumas teorias foram elaboradas, em alguns casos no mesmo período, por pessoas que não se conheciam e moravam em diferentes países, e não tinham conhecimento racional, consciente, do trabalho do outro, (o trabalho do outro é um evento físico, a construção da teoria é um evento psíquico, e este fato é um evento sincrônico).
E se hoje busca-se encontrar uma ponte entre a Física Quântica e a Sincronicidade, é porque estas transformações na visão de mundo, seguidas de suas respectivas construções mentais, não mudam o fato das mentes creadoras possuírem as mesmas propriedades mentais, comuns a todos, fazendo com que, em algum lugar, mentes conscientes percorram os caminhos apontados pelo conjunto de transformações envolvendo mente, consciência e psique humana.
A idéia das atualizações do inconsciente pode ser pensada como sendo o resultado do acúmulo de acontecimentos e excitações a nível quântico, pois o inconsciente é também um espaço virtual de possibilidades, o vazio, algo que corresponde ao conceito de vácuo quântico presente na teoria quântica.
Consciência e o inconsciente auto-organizam-se, avolumam-se nas suas capacidades, modificando e acrescentando novas percepções de mundo que se manifestam na ação humana.
Portanto, os efeitos sincrônicos podem ser decorrência do ímpeto da creação e manifestarem-se sem nenhuma correlação espacial, ao menos aparente, em estruturas macro e microscópicas.
Concluímos, assim, que podemos imaginar um universo virtual de possibilidades, o qual consideramos como o vácuo quântico, no caso da natureza, e como o inconsciente, no caso do homem.
A precipitação dos acontecimentos pela ação do homem ou da natureza, contextualiza o espaço-tempo e ganha sentido pela linguagem.