Se tomarmos como hipótese de que o inconsciente sabe mais do que a consciência temos que a subida à consciência de padrões e imagens oriundas das profundezas do inconsciente coletivo psicóide fornece ao gênero humano seu propósito no universo.
Assim, vamos propor um novo paradigma ou conceito de ciência, em que a consciência humana ganha uma grande importância, já que para Jung, a significação da vida humana neste planeta está vinculada à nossa capacidade de conscientização, ao adicionar ao mundo uma percepção reflexiva de coisas e significados.
Em outros termos, os humanos estão uma posição que lhes permite tomarem consciência de que o cosmos tem um princípio ordenador (Stein, 1998). Segundo o conceito de sincronicidade, só uma cosmologia dessa espécie será aceitável no mundo contemporâneo.
Como base para uma nova visão do mundo, o conceito de sincronicidade e suas implicações funcionam com eficácia porque são bastante fáceis de entender intuitivamente e de incorporar à vida cotidiana de cada um.
Por exemplo, todos temos consciência de acontecimentos em que a “sorte” nos bafejou e de dias de “azar” em que tudo parece correr mal. Grupos de eventos que estão relacionados através de significado e imagem, mas causalmente sem relação alguma entre si, podem ser facilmente experimentados e verificados por qualquer pessoa.
Mas aceitar esse conceito seriamente como princípio científico nada tem de fácil, mas sim de revolucionário. Em primeiro lugar, requer uma forma de pensar inteiramente nova acerca da natureza e da história.
Se uma pessoa pretende encontrar uma significação em eventos históricos, por exemplo, a implicação é que o subjacente arquétipo de ordem está organizando a história de tal modo a produzir algum novo avanço da consciência. Isso não significa progresso como os seres humanos gostariam de pensar (de forma linear e de que o progresso só existe no âmbito material) , mas antes, um avanço no entendimento da realidade, que pode equivaler ao reconhecimento tanto do seu lado terrível quanto de sua face bela e gloriosa.
Cada um de nós, portanto, é o portador de um fragmento de consciência de que a realidade e o tempo necessitam para ampliar o conhecimento dos motivos subjacentes que se desenrolam na história. Ou seja, o indivíduo é um co-criador do reflexo de realidade que a história como um todo revela. Cada história individual e a coletiva como um todo, devem ser vistas em relação recíproca e unidas de forma significativa (Stein, 1998).
Segundo Stein (1998), é um sacrifício mental para o racionalista ocidental pensar em cultura e história nos termos em que o conceito de sincronicidade implica, já que o pensamento ocidental está muito comprometido com um rigoroso princípio de causalidade. Ou seja, para muitos ocidentais, cientistas ou espiritualistas, ou ambos, a chamada Lei de Ação e Reação explica tudo…
Historicamente, a Era do Iluminismo deixou especificamente para o pensamento científico (e mesmo para algumas linhas do pensamento filosófico e histórico) um legado de faticidade sem significação.
Supõe-se que o cosmos e a história estão dispostos pelo acaso e pelas leis causais que governam a matéria.
O nosso nascimento numa determinada família é unicamente devido ao acaso e causalidade, ou pode haver também aí um significado? Ou suponhamos que a psique está organizada e estruturada não só causalmente, como é o pensamento dominante na psicologia do desenvolvimento, mas também de modo sincronístico. Isso significaria que o desenvolvimento da personalidade tem lugar por momentos de significativa coincidência (sincronicidade), assim como por uma seqüência epigenética pré-ordenada de etapas.
Subentenderia também que os grupos de instintos e os arquétipos se uniram e foram ativados de modo tanto causal quanto sincronístico (significativo). Um instinto como a sexualidade, por exemplo, poderia ser ativado não só em virtude de uma cadeia causal de eventos em seqüência (fatores genéticos, fixações psicológicas ou experiências infantis), mas também porque um campo arquetípico está constelado num determinado momento, e assim, por exemplo, um encontro ocasional com uma pessoa converte-se num relacionamento para a vida inteira. Nesse momento, algo do mundo psicóide torna-se visível e consciente (por exemplo, o par animus-anima). A imagem constelada do arquétipo não cria o evento, mas a correspondência entre a preparação psicológica interior (a qual pode ser totalmente inconsciente nesse momento) e o aparecimento exterior de uma pessoa, de forma inesperada e imprevisível, é sincronística.
Por que acontecem tais conexões parece um mistério se refletirmos unicamente em termos de causalidade, mas se introduzirmos o fator sincronístico e a dimensão de significação, então, estaremos muito mais perto de uma resposta mais completa e satisfatória.
Num universo aleatório, essa coincidência de necessidade e oportunidade, ou de desejo e satisfação, seria impossível, ou pelo menos, estatisticamente improvável.
Mas, esses mistérios inesquecíveis que estão consubstanciados em eventos sincronísticos transformam as pessoas, pois ingressar no mundo arquetípico desses eventos gera a sensação de se estar vivendo na vontade de Deus (Stein, 1998).
A Cosmologia de Jung fornece, em sua perspectiva mais ampla, o mais extenso alcance de sua penetrante e unificada visão. Segundo ele, os seres humanos têm um papel especial a desempenhar no Universo. A nossa consciência é capaz de refletir o cosmos e de introduzi-lo no espelho da consciência.
“Como em cima, assim embaixo”, falaram os místicos e esotéricos. “Como dentro, assim fora” parafraseou Carl Gustav Jung.