Método significa, etimologicamente, caminho. Seguir um método corresponde, pois, a caminhar em direção determinada, quer dizer, com a consciência do fim a que se quer chegar.
Descarte no Discurso do Método apresenta aos estudiosos da época, o método que entende correto ao homem, tal seja, o método baseado na razão.
Divide o livro em seis partes.
Na primeira parte, faz um balanço de tudo o que aprendeu através de livros e professores, após este balanço chega à conclusão de que tudo o que aprendeu não merece crédito e a partir de então busca a seu próprio entendimento e o estabelecimento de um método.
Na segunda parte, demonstra que desconfia e todo aquele que busca deve desconfiar de tudo que aprendeu, principalmente o conhecimento que acontece a nossa revelia, ou seja, aprendemos por imposição e não porque buscamos, ou o que aprendemos antes de dispor do pleno uso de nossa razão.
Assim, passa-se a confiar na razão, na sua razão, individual e intemporal. E, ainda, descarta todas as opiniões que então admitira a passa a rejeitar, afirma que “o costume e o exemplo nos persuadem mais do que um conhecimento certo”.
Propõe, então, um método que, incluindo as vantagens da lógica, da geometria e da álgebra, evita, ao mesmo tempo, devido à razão pura e simples e seus erros.
Formula, então, quatro regras:
1ª) evitar a prevenção e a precipitação, só aceitando como verdadeiras as coisas conhecidas de modo evidente como tais e não admitir no juízo senão o que se apresentasse clara e distintamente, excluindo qualquer dúvida.
2ª) dividir cada dificuldade em tantas parcelas quanto seja possível e quantas sejam necessárias para resolvê-las.
3ª) conduzir em ordem os pensamentos, começando pelos mais simples e mais fáceis de conhecer, a fim de ascender, pouco a pouco, por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, supondo uma ordem mesmo entre aqueles que não precedem naturalmente uns aos outros.
4ª) fazer sempre inventários tão completos e revistas tão gerais que se fique certo de nada ter omitido.
Portanto, ele ensina que somente é verdadeiro o que for evidente, ou seja, o que for intuído com clareza e precisão e que para entender um raciocínio, uma idéia devemos: (dividir cada uma das dificuldades que se apresentem em tantas parcelas quantas sejam necessárias para serem resolvidas), conduzir com ordem os pensamentos, começando dos objetos mais simples e mais fáceis de serem conhecidos, para depois tentar gradativamente o conhecimento dos mais complexos e realizar enumerações de modo a verificar que nada foi omitido.
Descarte dá ênfase a ciência da matemática e nos dia que de todos os que procuraram a verdade científica, só os matemáticos encontraram.
Na Terceira parte Descarte nos apresenta a moral “As paixões da alma”. São as seguintes máximas dessa moral provisória:
1ª) “…obedecer às leis e aos costumes do meu país, conservando constantemente a religião na qual Deus me deu graça de ser instituído desde a infância…”.
2ª) ser firme e resoluto quanto pudesse e não estando em nosso poder discernir as opiniões mais verdadeiras, devemos seguir as mais prováveis.
3ª) aconselha a procurar vencer-se sempre e não a fortuna, a mudar nossos desejos e não a ordem do mundo, acostumando-se de modo geral, a acreditar que só os pensamentos estão em nosso poder.
4ª) aconselhava a fazer o inventário, o balanço das ocupações dos homens a fim de escolher a melhor.
Na Quarta parte do discurso, Descartes pretende provar a existência de Deus e da alma humana, estabelecendo, com essas provas, os fundamentos de sua metafísica. Diz, “ao pensar que tudo era falso, era necessário que, eu que pensava, fosse alguma coisa; e observando que essa verdade: Penso, logo existo era tão firme e tão certa, que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não eram capazes de abalá-la, julguei que poderia recebê-la como o primeiro princípio da filosofia que eu procurava”
Procura provar que o ser que transcende e percebe que ele não pode ser interpretado. Percebe, assim, que não é possível descrever Deus através da razão humana, mas que existe no homem, ou no filósofo uma alma que pensa, complementa “uma substância cuja essência, ou natureza, consiste em pensar” e que “para ser, não precisa de lugar algum, nem depende de coisa alguma material”.
Em conseqüência, o eu, a alma, que permite ao filósofo ser o que é, um pensador, é inteiramente distinta do corpo, cujo conhecimento é mais fácil que o do corpo, pois mesmo que deixasse de existir, a alma não deixaria de ser o que é.
Conclui, então, que, assim como o mais perfeito não pode ser conseqüência do menos perfeito, e, nada poder provir, tal idéia, do ser perfeito, ou da perfeição do ser, só pode ter sido posta em nós por uma natureza mais perfeita do que a nossa, e que inclui todas as perfeições, quer dizer, Deus, que não pode ser explicado pela razão, então deixa que suas conjecturas parem para formular outra idéia, ou seja, para entender que as coisas concebidas clara e distintamente são todas verdadeiras, só pode ser garantida pela existência de Deus, ser perfeito, do qual recebemos tudo o que se acha em nós.
Assim, separando a alma do corpo, deixa as “coisas” da igreja e da religião para se ater somente no raciocínio material, assim pode pensar livremente sem atrito com a Igreja da época.
Na Quinta parte do discurso, faz uma minuciosa descrição do coração e da circulação do sangue no corpo humano.
Na Sexta e última parte do trata de vários assuntos, mostrando como e porque escreveu o livro, além de dissecar sobre métodos e formas de como aprendeu e percebeu o mundo, principalmente através da solidão que a doença lhe impôs.